foto_rita_ferreiraRita Évora Ferreira é uma das mais recentes vencedoras do Prémio Hayashi de Investigação Reiki, graças à dissertação de Mestrado que realizou sobre esta terapia complementar no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), em Lisboa. Perceber as componentes de Empowerment Psicológico (EP) no contexto da doença oncológica foi um dos principais objetivos do estudo. Entre as conclusões, destaca-se o facto de o grupo que praticava Reiki ter revelado maiores níveis de EP em comparação com o que apenas realizava os tratamentos convencionais. Em entrevista explica-nos como desenvolveu a investigação, o que concluiu e ainda deixa recomendações para melhor potenciar a utilização da terapia complementar Reiki na Oncologia.

Quais as conclusões mais relevantes a que chegaste com o teu estudo?
Este estudo veio acrescentar algumas dimensões pouco consideradas até então nos estudos científicos realizados no contexto de doença oncológica.Em termos gerais, procurou contribuir para o aprofundamento das componentes de Empowerment Psicológico (EP) – processo pelo qual as pessoas ganham controlo e poder sobre as suas vidas – junto da comunidade com experiência de doença oncológica e compreender de que forma o Reiki tem influência na promoção de resultados empoderadores.
Em termos específicos, ambicionou-se analisar tematicamente a experiência de Reiki vivenciada pelas pessoas com doença oncológica enquanto processo de EP, sendo que para isso se explorou o significado que os participantes atribuem ao EP, que coisas e/ou pessoas têm influência no mesmo e de que forma a experiência na prática Reiki proporciona efectivamente esse EP.
Os resultados da análise quantitativa e qualitativa são congruentes entre si, pois revelam que quem pratica Reiki possui o nível de Formação/Escolaridade e de EP mais elevado. O que significa que, em grande medida, o nível de formação/escolaridade possibilita a escolha mais informada dos tratamentos a recorrer e influencia a procura ativa pelo Reiki, tratamento complementar. A dimensão espiritual é um fator relevante para o aumento de EP dos participantes, em ambos os resultados, pois transcende as dificuldades da doença.
Os dados estatísticos quantitativos indicaram a existência de diferenças significativas nos níveis de EP entre os dois grupos (utilizadores de Reiki vs não utilizadores de Reiki) para todas as suas dimensões presentes no estudo de Mok (1998). O grupo que praticava Reiki foi aquele que, efetivamente, obteve os valores médios mais altos, relativamente ao grupo que só recorria aos tratamentos convencionais. Os dados revelam também que o nível de EP mais alto da amostra total – dos 25 participantes – foi atribuído ao domínio da Esperança (M = 4.34), em contraposição com o nível mais baixo que corresponde aos Skills e Conhecimento (M= 3.43). Foi ainda interessante verificar que o grupo que não praticava Reiki detinha maior confiança nos médicos em relação ao grupo que recorria a esta técnica. Mas isto explica-se pelo facto de estas pessoas se sentirem desprovidas de liberdade de escolha nos tratamentos a recorrer e, mais grave ainda, pela ausência dessa informação facultada pelos médicos.
Através das entrevistas qualitativas, este estudo alcançou sete temas principais e 26 sub – temas de EP associados à prática de Reiki. Tais como: Controlo; Transformação de Pensamentos; Crescimento Espiritual; Aquisição de Conhecimentos e Skills; Redes de Apoio; Envolvimento Ativo; GAM & GAR. Estes sete temas consistem nos significados atribuídos ao EP no contexto da doença oncológica, percecionados pelas participantes utilizadoras de Reiki. Dentro destes temas e sub-temas que o estudo alcançou, destacam-se por exemplo, o subtema “Tomada de decisão” contemplado no primeiro tema “Controlo”. A tomada de decisão, sendo um processo de liberdade de escolha sobre os diferentes métodos de tratamento a recorrer, é interessante verificar que este processo é facilitado pela rede de apoio dos participantes, pelos profissionais de saúde (na sua grande maioria os enfermeiros) e pela própria experiência no Reiki.

Também o papel da família aqui é preponderante na influência que tem sobre as decisões dos participantes. Ainda dentro do primeiro tema “Controlo”, o sub-tema “diminuição do stress físico e psicológico” foi o que manifestou a acção direta, prática e concreta dos tratamentos de Reiki no alívio dos sintomas físicos, psicológicos e emocionais causados pela doença e pelos efeitos dos tratamentos convencionais. Uma melhoria na qualidade de vida (QDV); diminuição da dor física; relaxamento; tranquilidade; bem-estar geral; auto-estima; paz interior; redução da ansiedade; alívio do stress são dos muitos benefícios do Reiki no recovery, alcançados não só na presente tese como em alguns estudos existentes na literatura.
O Reiki teve impacto nos mecanismos de superação da doença e consequente empowerment nesta comunidade e os sub-temas “Pensamento positivo” e “Esperança” destacados no segundo Tema “Transformação de Pensamentos”, vieram demonstrar isso mesmo. Através do auto – Reiki, a pessoa atribui uma importância maior aos aspetos positivos que a doença trouxe à sua vida e encara-a de uma forma mais otimista. A “Esperança”, ligada à fé, também é estimulada pela família/cônjuge e pelos amigos. Além disso, o Reiki demonstrou ser igualmente relevante para a construção de uma realidade empoderadora na experiência de doença, por dar origem ao sub-tema “Atribuição de significado e propósito de vida” destacado no terceiro tema “ Crescimento espiritual”.
Relativamente ao sétimo tema alcançado “GAM & GAR”, refere-se à participação ativa em grupos de ajuda mútua e de partilhas de Reiki, facilitadores do processo de EP. Foi curioso verificar que a maioria das participantes considerou os GAR (grupos de apoio reiki) tão ou mais eficazes no aumento do seu E.P, na medida em que estes partilham experiências entre si e com os seus Praticantes de Reiki e são grupos que têm como foco manter elevado o nível de energia entre todos os membros, favorecendo a correcta percepção sobre a doença.

 

O que te levou a estudar o Reiki como técnica promotora de EP?

De certo modo, a motivação pessoal prendeu-se pela observação direta, levada a cabo no âmbito do estágio curricular, nomeadamente, alguma falta de informação nas pessoas a vivenciar o processo de doença oncológica, como por exemplo o tipo de tratamentos e recursos a recorrer, para a promoção da saúde. A par disso, o Reiki surgiu como um recurso, de forma a atender às múltiplas necessidades e questões vivenciadas neste processo. Por conseguinte, são estas as razões principais que conferem pertinência a este estudo, pois trata-se de um paradigma emergente da saúde comunitária, a qual carece de mais investigação, dado o seu contributo à Psicologia Comunitária.

 

É possível afirmarmos que o Reiki tem efeitos práticos concretos enquanto técnica promotora de EP?

Não só é possível afirmá-lo em termos práticos, pelos inúmeros resultados alcançados, como se constitui num direito público a obtenção destas informações, por parte da comunidade. Arriscaria, inclusive, a afirmar que todos os profissionais de saúde, que lidam diariamente e intervém nestas situações de crise, deveriam apelar à prática de Reiki. O Reiki, enquanto ferramenta promotora de saúde e bem – estar, para além de possuir cada vez mais adeptos, tem vindo a ter cada vez mais evidência cientifica pelos seus muitos benefícios visíveis e percepcionados.
Através deste estudo, é fácil de perceber que com o Reiki, a pessoa adquire um papel crucial e activo na sua própria recuperação, tornando-se no seu próprio agente de mudança, pois ela age em conformidade com os resultados que espera poder alcançar. O Reiki, neste estudo, demonstrou ser um elemento central e impulsionador de mudanças positivas, facilitando o processo de recovery, o aumento do EP e o envolvimento ativo na comunidade.

 

Fala-nos sobre a recetividade da comunidade académica ao teu trabalho. Como acolheram a ideia de estudares este tema e como reagiram, depois, às conclusões?

Referi, na entrevista anterior, que a comunidade académica mostrou-se pouco recetiva à proposta de estudar algo que fugisse tanto aos padrões convencionais instituídos. Ideias que se constituem disruptivas, mostram-nos um caminho a percorrer longo e desafiante, porém, quando conquistado, revela-se bastante gratificante. Como reação aos resultados, este estudo foi alvo de muitos elogios, críticas construtivas e, mais importante, de reconhecimento. É importante sentirmos o valor daquilo que fazemos e do trabalho que tivemos que percorrer para o alcançar, especialmente, se aquilo que procuramos dá resposta às necessidades das pessoas, fazendo com que o recurso, que se constitui o Reiki, seja acessível a toda a comunidade.
Da metodologia fez parte as sessões de Reiki a doentes oncológicos. Queres explicar aos leitores do RKP em que consistiu toda a metodologia para que os resultados da tua investigação fossem validados cientificamente?

Este estudo de carácter exploratório é baseado numa metodologia qualitativa e quantitativa útil e adequada. A abordagem qualitativa tenta englobar toda a diversidade que a ação humana pode assumir e manifestar, aprofundando o contexto que pretende explorar (como? Porquê?). Por seu turno, a abordagem quantitativa procura identificar padrões diferenciais de relações entre as variáveis (quais são?).
Participaram no estudo 25 participantes com doença oncológica, 15 dos quais utilizavam os tratamentos convencionais e 10 utilizavam o tratamento complementar de Reiki. Esta amostra foi recolhida por conveniência e snowball através de contactos de grupos de Reiki da Associação Portuguesa de Reiki (APR) e outro grupo que recorre a tratamentos convencionais, apoiados pela Associação Girassol Solidário. A resposta aos questionários, bem como as entrevistas gravadas, foram presenciais. Todos os participantes aceitaram participar livremente no estudo e assinaram o Termo de Consentimento Informado.
Na fase de recolha dos dados, primeiramente solicitou-se a autorização à autora da Escala original, tendo-se obtido a sua anuência. De seguida, utilizou-se o Questionário de EP aplicado à doença oncológica, 5 pontos na Escala de Likert, retirado do estudo de Mok (1998), seguido de um processo de tradução preconizado pela literatura e obteve-se a seguinte versão portuguesa: Questionário de E.P para pessoas com doença oncológica – QEDO_VP1, Ferreira e Ornelas (2013). Foi aplicado o Questionário aos 25 participantes do estudo e, por fim, aplicou-se o guião de entrevista semi estruturado às 5 participantes do grupo que recorria ao Reiki. Para os dados qualitativos das entrevistas procedeu-se à Análise Temática de Braun & Clarke (2006), que obedece a 6 fases de análise. Quanto aos tratamentos dos dados quantitativos, optou-se por utilizar o Software Estatístico (SPSS) para cálculo dos testes específicos.

 

Tendo em conta os resultados a que chegaste, que recomendações poderás fornecer à comunidade Reiki e também à comunidade médica convencional de forma a melhor contribuir para o EP dos doentes oncológicos?

As recomendações que proponho à comunidade de profissionais de saúde, baseiam-se no meu percurso pessoal e através dos resultados empíricos alcançados.
Acima de tudo, a comunidade médica dos setores oncológicos deve estar atenta não só às necessidades reais dos seus utentes, como deverá acompanhar a evolução que se faz acompanhar a atualidade.
O carinho, a simpatia, a atenção, o comunicar as informações são características dos profissionais de saúde que os estudos indicam serem empoderadores para os indivíduos. Alguns estudos indicam também que várias são as vezes em que as pessoas tornam-se passivas ao receber o seu tratamento e sentem-se incapazes na tomada de decisões por parte dos profissionais. Ainda assim, a grande maioria das participantes deste estudo atribuiu o aumento dos seus níveis de EP aos enfermeiros e não à classe médica. Neste sentido, recomendo que a comunidade hospitalar faculte as informações necessárias acerca dos diferentes métodos de tratamento a recorrer, que vão além dos convencionais e que facilite o acesso a escolhas informadas e autónomas aos seus utentes. Por último, apelo a uma maior consciência relativamente às dimensões da espiritualidade, pois já se verificou que a própria espiritualidade transcende as dificuldades decorrentes da doença e seria, igualmente, interessante validar a formação profissional, na prática de Reiki, ao pessoal dos Hospitais, Clínicas, Centros de Saúde e Organizações de base comunitária, compreendendo a comunidade como um todo nos respectivos suportes de tratamento.
Por isso, o Reiki veio revelar neste estudo os seus benefícios práticos e o seu papel promotor de EP, abrindo as portas para a transformação positiva das pessoas que o usam e revolucionando o sistema que o desafia.

 

Podes acrescentar qualquer outra informação que consideres pertinente para o assunto em causa.

No que concerne a sugestões para estudos futuros, estes resultados reforçam a necessidade de conceptualizar o EP para este contexto, enquanto processo individual, relacional e colctivo. Considero pertinente que futuras investigações implementem instrumentos de avaliação que tenham em conta a dimensão espiritual, assim como, seria útil validar o presente Questionário traduzido para a população portuguesa, de forma a poder ser representativo da mesma. As Ciências Sociais carecem de estudos empíricos que relacionem o EP aos contextos da doença oncológica.

 


 

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