Entrevista,  Livros sobre Reiki

Entrevista a João Magalhães autor de Reiki A Energia Universal

João Magalhães é Presidente da Associação Portuguesa de Reiki e também autor do recente livro Reiki – A Energia Universal. Esta entrevista é sobre o tema do livro, mas também sobre as várias questões que surgem no ensino, profissionalização e aprendizagem de Reiki em Portugal.

Reiki – A Energia Universal

Como surgiu a ideia de escrever Reiki – A Energia Universal?

O conceito por detrás deste livro é o caminho que um praticante de Reiki faz para se tornar Mestre de Reiki e segue aquilo que o Mestre Usui nos deixou como missão. Dizia ele, “A missão do Usui Reiki Ryoho é guiar para uma vida pacífica e feliz, curar os outros, melhorar a sua felicidade e a nossa”.

No livro, refere a existência de várias energias universais. O que distingue o Reiki das outras energias?

É um pouco difícil distinguir a energia e mais ainda comprovar o tipo de energia, é por isso mesmo que temos a técnica da sintonização, que nos auxilia a trabalhar com a Energia Universal, de forma mais direta e imediata. No entanto, há algo que nos permite distinguir claramente – a passividade.
Reiki é um tipo de energia passiva, não é imposta, não é forçada, não pode ser. Se tal acontecer, não é Reiki que se está a usar, assim como não se está a praticar Reiki. Como é uma energia que trabalha no campo da homeostasia, de forma alguma se consegue, naturalmente, forçar esse processo. Esta é uma boa forma de compreender a diferença e também a sentir.

Qual a preparação ideal para se ser um bom Mestre de Reiki?

  • Levar a prática de Reiki com seriedade, vivência e experiência, desde o primeiro dia;
  • Compreender os conceitos profundos do Usui Reiki Ryoho;
  • Trabalhar muito como voluntário e como Terapeuta.

O que faz de um Mestre de Reiki um bom profissional?

Saber colocar-se no lugar dos outros e estar aberto a todas as situações, o que é verdadeiramente difícil. É também saber trabalhar em conjunto, formar não só bons praticantes, mas boas pessoas.
Cada vez mais compreendo este último sentido. A prática de Reiki, dizia o Mestre Usui, é para a melhoria do corpo e da mente, isso é alcançado através do tratamento e dos cinco princípios, o que implica dizer que tem que haver uma transformação e tem que ser assumida uma disciplina – a disciplina do autocuidado e da bondade para consigo mesmo. Um Mestre de Reiki é um facilitador, é aquele que forma bons praticantes e boas pessoas, tendo sempre o devido equilíbrio de compreender que muitos mal terminam o curso, esquecerem tudo o que foi ensinado e irem fazer o que já tinham em mente, mas mantendo um bocado de papel ao qual outros dão valor.
Manter o equilíbrio nas relações humanas não é simples e saber conciliar é um dever do Mestre de Reiki. Assim, tornar-se um bom profissional significa que sabe formar, que sabe praticar, viver e que acima de tudo está a construir uma comunidade, uma sociedade e um mundo melhores, através da prática de Reiki.

O caminho do Reiki é um caminho árduo. Como é que um Mestre de Reiki pode superar as dificuldades?

Acima de tudo, manter-se centrado nos ensinamentos do Mestre Usui, compreender claramente a missão que ele nos legou. A partir daí é avaliar toda a sua ação, com bondade e honestidade.

A que se deve a banalização do conceito «Mestre de Reiki», em Portugal?

Existem algumas situações que contribuíram para isso:

  1. Importamos o conceito de que quem tem o nível 3 de Reiki é Mestre de Reiki, mesmo não sabendo sintonizar;
  2. É implícito na nossa cultura que uma pessoa só tem valor quando tem um título – doutor, engenheiro, “mestre de Reiki, …;
  3. A necessidade de afirmação que cada um possa ter.

De facto, não existe uma necessidade de uma pessoa se apresentar e dizer “olá, eu sou Mestre de Reiki”, ou afirmar opiniões pessoais reforçando o seu nome com um título, que já vimos estar a criar um preconceito em relação aos Mestres de Reiki. Por outro lado, o conceito de Mestre que tem um determinado valor no Oriente, não é de todo compreendido nem é possível de ser praticado em Portugal, porque realmente nós não seguimos à risca aquilo que nos dizem.
Antigamente, o conceito Mestre era usado para uma pessoa que continha um grande saber e arte sobre algo, por exemplo, um Mestre Carpinteiro. Dava-se valor a esse saber, hoje apenas se desvaloriza, a pessoa, o trabalho, a profissão. Quando conseguirmos compreender que sentirmo-nos bem a desvalorizar os outros e as coisas não é um bom caminho, muito mudará de certeza.
Assim, o melhor conceito que posso dar é que não haja tanta importância no ser “Mestre de Reiki”, mas sim no ser praticante de Reiki, ou seja, aquele que pratica, aplica, vive os conceitos do Usui Reiki Ryoho.

Qual o maior erro que um Mestre de Reiki pode cometer na sua prática profissional?

Deixar-se enganar por si mesmo.
Isto quer dizer acreditar que sabe tudo e que nada mais tem a aprender, só a ensinar e que os outros o deviam escutar e reverenciar. Não há maior erro que este porque a partir daqui surgirão cada vez mais situações exigentes que o farão ver o contrário, para que possa retornar a um caminho de harmonia. Quanto maior resistência, maior o sofrimento.

Pensa que em Portugal há abertura de mentalidades para a criação de escolas de Reiki?

Acredito sim. É um trabalho esforçado de credibilização, mas quanto mais bons praticantes existirem, com cada vez melhor formação, mais facilmente as mentalidades de grupo se irão tornar esclarecidas e compreenderão o que é Reiki e para que serve uma escola de Reiki e a sua aprendizagem.
Quem pretende criar uma escola de Reiki tem que ter a consciência que é difícil, que exige tanto esforço quanto qualquer outra profissão, se realmente se quiser fazer as coisas corretamente. Por vezes temos que parar para saber reequacionar. Como conselho, nunca vás com demasiado fogo, depressa ele se irá extinguir, principalmente à primeira dificuldade. Leva uma ideia como quem recita os cinco princípios.

O que leva um Mestre de Reiki a desmotivar-se?

Existem vários factores que sempre acontecem:

  1. Ter poucos alunos e não conseguir chegar a mais pessoas;
  2. Alguns alunos desistirem e não haver comunicação do porque;
  3. O prejuízo que existe entre Mestres de Reiki;
  4. O ser enganado financeiramente;
  5. O desgaste da compaixão;
  6. Entre muitos outros…

Então, a melhor forma de não perder a motivação é saber viver consciente dos cinco princípios e compreender a realidade da condição humana. Todas estas situações fazem parte e elas não são diferentes no “mundo” do Reiki, por isso mesmo, devemos viver em equilíbrio, saber desapegar, ter uma mente vazia e um coração predisposto.

O que diferencia os cursos de Reiki com acompanhamento dos que não o têm?

É uma opção de quem ensina assim e nos dias de hoje não há razão para os cursos não terem um ensino com acompanhamento estruturado pois já estão publicados muitos livros que permitem esse mesmo conceito. Podemos dizer que a diferença está, essencialmente, no praticante não vivenciar e desenvolver a sua prática. Por exemplo, se não tiver uma aprendizagem progressiva, irá achar que ao praticar em casa já aprendeu tudo o que tinha a aprender e quer continuar para o nível seguinte, o que é muito natural. Se não tem experiência em praticar com os colegas do mesmo nível, também não aprenderá com a partilha de experiências, nem terá oportunidade de colocar as suas dúvidas ou compreender a progressão das suas percepções com o byosen.
Podemos comparar os dois tipos de ensino a uma viagem, como por exemplo, passar um dia em Santa Catarina e achar que se viu tudo do Porto. Reiki necessita de vivência e essa só pode surgir com o tempo.

Os três pilares para um terapeuta de Reiki são a resiliência, a honestidade e a bondade. E quando, por algum motivo, não se consegue viver de acordo com eles?

Aí o terapeuta começará a entrar em dissociação de si mesmo e, muito possivelmente, as coisas começarão a falhar. Poderá demorar muito tempo até entrar em ruptura, mas isso irá acontecer pois por um lado não está a ser integro consigo mesmo, por outro lado, não conseguirá dar todo o seu potencial a outros. É como julgarmos uma pessoa pela sua aparência – um ar angelical esconde muitas vezes uma grande falsidade. É por isso mesmo que nunca nos devemos considerar mais do que os outros, ou passarmos uma mensagem que vivemos sem problemas, todos somos humanos e os praticantes de Reiki, os terapeutas, os Mestres, são humanos. Assim todos conseguimo-nos entender melhor e quando não estamos em condições, não trabalhamos, descansamos.

Neste livro, introduz um novo ensinamento pouco divulgado até então: o Reiju. Para que serve exatamente e quem poderá fazê-lo?

O Reiju é um empoderamento através da Energia Universal, ou seja, Reiki e é uma prática muito positiva para todos os Mestres de Reiki aplicarem aos seus alunos, pois não implica sintonização. É um reforço do canal energético e da energia, assim como um reforço da conexão que o praticante tem. Pode realizar um Reiju que for um Mestre de Reiki com experiência em sintonizar os seus alunos. O ideal é aprender presencialmente a técnica, por isso, a informação que consta no livro é uma indicação da técnica, mas que requer uma aprendizagem presencial para que se possa aprimorar, praticar e até compreender alguns truques por detrás do Reiju.

Por que é que há muito preconceito relativamente ao lado espiritual do Reiki?

Tem mesmo a ver com a forma como a sociedade encara o que é espiritual e com as “importações” de crenças que fizemos para a nossa cultura, que nos levaram a entender muito mal o que é Reiki. Fala-se de santos, de guias, de anjos, quando nada disso faz parte do método. Usam-se penas, defumadores, arrotos e falar com espíritos, quando nada disso faz parte do método.
Então é difícil passarmos com um pano por cima desse enraizamento cultural. Já há nove anos que a Associação Portuguesa de Reiki tem vindo a fazer um grande trabalho de esclarecimento e muito já se progrediu, mas muito ainda falta fazer porque são nove anos de grande trabalho, mas que um breve momento pode sempre chegar para deitar tudo por terra. Isto significa que devemos encarar o método como ele é – a prática da energia. Devemos saber colocar as nossas crenças pessoais de lado. Religião, espiritualidade, isso é próprio de cada um, no método não há indicação para seguirmos esse tipo de crenças. Então, qual a dificuldade de praticar cinco princípios e levar a verdadeira atenção a essa mudança de consciência?
Essa sim é uma verdadeira espiritualidade, o chegar à consciência, o mudar, o saber construir um ser através de si mesmo, com reflexão, harmonia e confiança.

Como podemos contornar essa intolerância e ignorância?

Praticando Reiki como Reiki e ter atenção a declarações públicas que se façam. Muito facilmente nos deixamos levar pelo ego e metemos os pés pelas mãos. Se pensares que és o rosto do Reiki, então sabes que é em ti que está a responsabilidade da credibilização.
A intolerância e a ignorância sempre existirão, elas fazem parte do nosso crescimento humano, por isso mesmo, devemos trabalhar da forma mais reta possível e dentro daquilo que é o Usui Reiki Ryoho. Quanto mais conseguirmos auxiliar cada pessoa por si e ter mais harmonia, autoconfiança, gratidão, honestidade, bondade e quanto mais ensinarmos a que façam o mesmo pelos outros, mais a intolerância e ignorância perderão a sua força. Estar num caminho de forma equilibrada é difícil, mas não é impossível.

Qual a mensagem primordial que pretende dar com a criação desta obra?

Que o praticante de Reiki assuma corretamente a sua prática desde o primeiro dia do seu curso e que um Mestre de Reiki seja alguém que vive e transmita harmonia, confiança, gratidão, honestidade e bondade. Que dentro dos problemas pessoais de cada um e do árduo da sua vida, consigam sempre demonstrar Reiki como é Reiki e que sempre tenham força e serenidade.