Quando um familiar está numa situação em que Reiki seria benéfico para ele, é muito natural pensar que o praticante se deve oferecer para o tratar, mas será que tal é sempre possível? Será que eticamente levanta alguma questão?
A opção de atender ou não familiares e amigos é inteiramente tua e há alguns pontos que te podem ajudar a refletir melhor para a tua tomada de decisão.
Tratar familiares e amigos numa perspetiva ética
No Código de Ética da Associação Portuguesa de Reiki é dito nas “Responsabilidades do terapeuta” que este deve ter uma atitude de “Integridade, imparcialidade e respeito para com todos os seres vivos.”, assim como nos “Direitos do Terapeuta”, “O terapeuta tem o direito de recusar a consulta ou adiá‐la se não tiver condições para tal”. Estes dois pontos são importantes para este caso pois apresentam duas situações:
- A necessidade de objetividade;
- A validade da recusa de consulta na ausência de condições.
A necessidade de objetividade
Muitas vezes um familiar ou amigo vem pedir-nos conselho ou mesmo “preciso que me trates”. Por princípio moral, todos sentimos que não se deve recusar Reiki a ninguém. No entanto, questões éticas podem surgir impedindo a melhor doação ou capacidade de presença por parte do praticante de Reiki.
Por vezes a situação é delicada e torna-se demasiado envolvente para o praticante, ou a sua opinião sobre a situação familiar ou de amizade, é contrária à do seu utente. Havendo um laço que os une, por vezes torna-se difícil a objetividade que se consegue com outra pessoa.
Então, quando o terapeuta sente que a sua objetividade estará em causa, poderá antes recomendar um colega para o atendimento.
Pode parecer descabido numa primeira leitura, mas na verdade, todos sabemos que Reiki está dependente da coerência que alcançamos. Se a nossa mente está perturbada, não flui a energia da melhor forma. Como podemos estar a fazer um tratamento numa situação para a qual somos transportados por familiaridade?
Claro que aceitando o tratamento será também uma forma de crescimento para o terapeuta, mas será que ele conseguirá dar o que a pessoa verdadeiramente precisa de forma objectiva?
A compaixão e a bondade, de forma harmoniosa, requerem de nós essa mesma harmonia.
A validade da recusa de consulta na ausência de condições
A ausência de condições pode ser expressa quando os assuntos familiares entram na esfera da intimidade e do particular, fazendo com que o terapeuta sinta perder a sua objetividade e profissionalismo. Principalmente quando tudo se passa no seu gabinete, uma memória pode perdurar e tornar-se intrusa em futuros atendimentos.
O praticante de Reiki não é isento de emoções, de sentimentos, de pensamentos que poderão levar a um desfecho não muito positivo para o percurso terapêutico.
Também não devemos “terapeutizar” uma relação próxima. As pessoas precisam de nós pelo que somos num todo e surgindo apenas como um terapeuta poderá distanciar o laço afectivo.
Claro que tudo é uma opção por parte do praticante de Reiki, mas ele deve compreender claramente tudo o que está em jogo quando aceita tratar um amigo ou um familiar, compreendendo se conseguirá lidar com as situações de forma objectiva e se aplicará Reiki na melhor das condições para a pessoa, não causando um esforço para si mesmo.
Devemos ainda observar que em algumas situações o praticante pode entrar numa “crise de compaixão”, pelo seu envolvimento demasiado próximo com a pessoa e a situação. Neste caso, o cuidador precisará também de ser cuidado.
O Método de Reiki é algo de maravilhoso, profundo, complexo e saudável. Dá-nos espaço para as nossas escolhas, mas lembra-te sempre do sentido de missão que o Mestre Usui te deixou: “A missão do Usui Reiki Ryoho é guiar para uma vida pacífica e feliz, curar os outros, melhorar a sua felicidade e a nossa”.
Portanto, se de alguma forma sentires que a tua objetividade ou algo estará em causa, não existe qualquer tipo de problema ético em indicares outra pessoa para tratar o teu amigo ou familiar.