A Associação Portuguesa de Reiki atribuiu, no passado dia 21 de Dezembro, mais um Prémio Hayashi de Investigação. A distinção foi entregue a Maura Ferreira pela investigação que está a desenvolver com Reiki na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Tese de Mestrado Energy Healer Procedure in an Experimental Model – Preliminary Results
Procurar investigar os efeitos do Reiki nos aspectos psiconeuroimunológicos e na qualidade de vida é o objectivo da pesquisa que está a ser levada a cabo na mais antiga universidade do país. Juntamente com a sua equipa, Maura Ferreira tenta compreender e avaliar sobretudo o que acontece com as células de defesa do organismo.
A investigação preliminar foi desenvolvida num modelo experimental animal e os resultados foram publicados em Dezembro de 2012 na revista da Associação Portuguesa de Patologia Experimental (pág. 76), no âmbito do II Simpósio Luso-Brasileiro de Patologia, com o título Energy Healer Procedure in an Experimental Model – Preliminary Results.
Entre as conclusões alcançadas destaca-se o aumento verificado da actividade dos leucócitos nos animais que receberam Reiki, o que pode representar um efeito positivo sobre a resposta imunológica desses animais. Ainda assim, os investigadores acreditam que outros estudos de caracterização da resposta imune podem elucidar os efeitos do Reiki, razão por que continuam a trabalhar neste campo.
Segue-se um texto da autoria da investigadora Maura Ferreira sobre o trabalho desenvolvido:
Investigando a Energia curativa Reiki em modelos experimentais
O conceito de Medicina Integrativa (MI) é mais recente no debate das Medicinas Alternativas e Complementares (MAC), e surge a partir da busca de um modelo que viabilize a introdução de novas práticas nos sistemas nacionais de saúde. (OTANI e BARROS, 2011). Está relacionada com a combinação de tratamentos entre a Medicina convencional e as práticas da MAC que apresentam elevadas evidências de segurança e eficácia (NCCAM, 2008) comprovadas cientificamente.
Na pesquisa científica, muitas vezes as coisas já existem e nós não conseguimos ver, por isso, é muito importante pensar sobre o que estamos a observar e a fazer. É muito importante PENSAR. Pensar a partir da pessoa e não da doença, porque atrás de uma amostra, de um procedimento de investigação clínica, de uma colecta de material para laboratório, está um paciente, está a pessoa que busca os cuidados de saúde. As nossas investigações devem ter a pessoa como centro, por isso, o consentimento livre informado, a bioética, não são apenas conceitos a serem discutidos, mas devem ser uma exigência na investigação.
Há lacunas grandes entre a fase em que o investigador descobre e a disponibilização da descoberta para a pessoas. Em Saúde Pública, o que investigamos e descobrimos em laboratório nem sempre chega. Os interesses que financiam muitas investigações são, por vezes, interesses comerciais que nem sempre correspondem ao poder de compra da população que mais precisa.
Mesmo nas Terapias Naturais não podemos perder de vista a evidência cientifica, bem como o seu uso consciente e coerente. A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem oferecido aos países membros algumas orientações e guias para a implantação das práticas complementares/alternativas. Esta organização tem mostrado preocupação sobretudo no que diz respeito ao uso de produtos e medicamentos naturais e algumas terapêuticas invasivas que devem ser realizadas por profissionais qualificados e experientes.
Numa compreensão holística da pessoa, ou seja, considerando o ser em sua totalidade, a OMS definiu saúde como o completo bem-estar físico, mental, social e espiritual.
Os diferentes modelos de saúde e os processos de compreensão do Ser nas diferentes sociedades e em diferentes contextos e épocas, apontam terapêuticas, onde temos a pessoa como centro e em outros momentos a doença.
Quando se trata do estudo de energias curativas e da consciência, encontramos diferentes cartografias que mostram essa busca pessoal da consciência de nós mesmos. Responder e compreender a pessoa numa relação com o invisível em interacções onde o comportamento e a componente psicológica influenciam os sistemas endócrino e imunológico, ou seja, influenciam diretamente na saúde-doença-cura.
O “estado do ser e de suas interacções sensitivas” são por vezes difíceis de quantificar dentro de um modelo de investigação, por outro lado as pessoas sentem o que acontece e relatam suas experiências sensitivas que por vezes possibilitam mudanças nos padrões de dor e sofrimento, na qualidade de vida e em alguns casos no processo de cura e auto-cuidado.
Compreender o sofrimento no ser humano é buscar a sua origem enquanto conceito saúde-doença no contexto social. O sofrimento e a saúde são resultados desta capacidade de adaptação, de agir e de reagir da estrutura psicofisiológica que envolve o eixo neuroimunoendócrino (pinel, hipotálamo e supra-renais), bem como da intervenção e desequilíbrio de agentes internos e externos nos organismos vivos. Além da intervenção das diferentes relações sociais que contribuem na escolha do estilo de vida e da interacção no ambiente onde se insere.
A Saúde enquanto processo histórico depende não só do contexto social em que os indivíduos estão integrados, mas também dos regimes e forças económicas e políticas que regem o social. Ao mesmo tempo, interage com a variabilidade fisiológica própria do ser humano, que não é estanque e procura constantemente adaptar-se às variações do meio interno (corpo) e externo (ambiente), medido pelas acções e reacções psicológicas e pelo seu estilo de vida.
Do ponto de vista da Saúde, a doença é uma forma que o corpo tem de nos chamar a atenção. É uma forma de nos dizer que há algo errado, que não estamos em harmonia e que precisamos de nos escutar, de observar como estamos a agir e a reagir em relação ao que nos acontece interna e externamente.
Hoje sabemos que o estilo de vida pode mudar os efeitos lineares energéticos de um organismo vivo. Quando estudamos a nível molecular uma única célula, conseguimos compreender as relações entre a transcrição, presença e expressão de proteínas, metabolitos intracelulares e extracelulares e a sua sobre ou supregulação. O estudo da expressão dos genes através da transcritópmica (citando um exemplo nas ciências designadas como ómicas) tem permitido a medição de várias características dos sistemas vivos e a compreensão da organização biomolecular. Os estímulos ambientais e relacionados com estilos de vida diferentes influenciam de forma desigual os níveis de metabolitos de um sistema vivo (LINDON; MICHOLSON; HOLMES, 2007).
No que diz respeito à investigação sobre as Terapias Integrativas e Complementares, as ciências têm vindo a constatar o que culturas milenares já diziam quanto à existência das relações e alterações entre genes, cérebro e comportamento. Registos da Medicina Chinesa, para citar um exemplo, descrevem a inter-relação dos rins com o cérebro.
A Psiconeuroimunoendocrinologia é uma área das ciências que estuda a interacção entre o sistema nervoso, imunológico e endócrino e o factor psicológico (MONEZI, 2005). As interacções entre mente e emoções com diferentes sistemas, principalmente o endócrino e o imunológico, foram alvo de diversos estudos (ADER,1975,1988; BYERLY, 1976; LEVINE, 1978; STEFANO, 2001) que apontam que essas conexões e inter-relações sistémicas poderiam constituir um acesso para mecanismos internos, naturais e que poderiam desencadear tanto processos patológicos como de cura (citados em MONEZI, 2005).
E é nessas interacções do sistema nervoso simpático e parassimpático em relação ao comportamento e resposta imunológica que pretendemos compreender e avaliar os efeitos do Reiki. A nossa investigação na Universidade de Coimbra procura investigar os efeitos da energia curativa Reiki nos aspectos psiconeuroimunológicos. Estamos a tentar compreender e avaliar principalmente o que acontece com as células de defesas. Quais são os efeitos do Reiki nos aspectos psiconeuroimunológicos e na qualidade de vida?
A nossa investigação preliminar foi desenvolvida num modelo experimental animal e os resultados foram publicados em Dezembro de 2012 na “Revista Portuguesa de Patologia Experimental”, no âmbito do II Simpósio Luso-Brasileiro de Patologia, com o titulo “Energy healer procedure in an experimental model – preliminary results) e estamos submetendo a publicação e apresentação no Congresso Anual da Sociedade Internacional para Pesquisa de Medicina Complementar (ISCMR), que acontecerá em Abril deste ano em Londres.
Temos grandes desafios pela frente, nomeadamente encontrar a metodologia adequada, bem como conseguir os recursos financeiros necessários para o material recolhido poder ser analisado, entre outros. Penso que cada vez mais precisamos criar um fundo entre os que actuam com Reiki, destinado a contribuir para este tipo de investigações, mostrando através de evidências cientificas o que muitos já percebem nas suas práticas diárias. Acredito que a contribuição das ciências é uma porta através da qual devemos passar se queremos promover o debate das políticas públicas. E isto porque “fazer ciência” não está longe de ser cidadão e da cidadania. Não está longe da nossa vida diária, das nossas acções quotidianas. Devemos cada vez mais exigir que aquilo que é descoberto chegue aos que precisam enquanto serviço. Esse é também um desafio de quem faz ciência, bem como e de toda a sociedade, organizada ou não.
No artigo publicado falamos sobre as intervenções de cura energética que ganharam popularidade como uma abordagem não-invasiva e não-farmacológica para o relaxamento, alívio da ansiedade e modificação da percepção da dor. Existe pouca investigação para apoiar a aplicação destas técnicas na prática clínica e verifica-se a necessidade de mais estudos clínicos e laboratoriais. O objectivo do estudo com os resultados preliminares que publicamos foi avaliar a possível acção de um procedimento de Reiki sobre os leucócitos de ratos.
O QUE SÃO LEUCÓCITOS?
Os leucócitos são um grupo de diferentes células, com diferentes funções no sistema imune. Alguns leucócitos atacam diretamente o invasor, outros produzem anticorpos, outros apenas fazem a identificação e assim por diante.
MATERIAIS E MÉTODOS
Um grupo de dez ratos Wistar, machos, com 8 semanas de idade, foram aleatoriamente divididos em dois grupos pequenos de cinco animais cada. O grupo I não foi submetido a qualquer tipo de manipulação e os animais do grupo II foram submetidos a Reiki durante 15 minutos por dia, três vezes por semana durante oito semanas. Após este período, foi colhido sangue de todos os animais, o qual foi enviado para avaliar os linfócitos e monócitos autofluorescência, sem identificar o grupo de cada animal. Foi realizada a medição autofluorescência num gráfico de pontos FITC / RPE usando um citómetro de fluxo BD FACSCanto II para avaliação.
RESULTADOS
Autofluorescência média aumentou significativamente nos monócitos do grupo II (0,76% contra 0,10%; Mann-Withney teste p = 0,0238). Linfócitos do Grupo II apresentaram também aumento de autofluorescência (0,10% vs 0,04%), sem significado estatístico.
Não houve diferença significativa na histologia do pulmão entre os dois grupos de animais, após 8 semanas de procedimento experimental.
CONCLUSÕES
Em conjunto, os resultados preliminares sugerem um aumento da actividade dos leucócitos em animais submetidos a procedimento de Reiki. O que pode representar um efeito positivo sobre a resposta imunológica desses animais. Outros estudos de caracterização da resposta imune podem elucidar os efeitos de processos curador de energia.