Mais respostas sobre a opinião da igreja sobre Reiki
Temos a continuação do artigo do Padre Ricardo Cristóvão, um artigo de opinião sobre o que “o Reiki” e como um Católico deve fazer para sair dele.
Mas, antes de o fazer, quero indicar que estes textos escritos pelo padre fazem parte da aceitação que devemos ter enquanto sociedade laica e democrática, onde a liberdade de expressão é válida. Mesmo tendo um caracter pejorativo, indicando a prática aquilo que não é, há que saber escutar. É através da crítica que surge a ideia clara e a correcção do caminho e com estes temas percebemos que existe um longo caminho de desmistificação, de descolagem da prática de Reiki daquilo que nada tem a ver e um enquadramento real do que é e para que serve. Esse é um trabalho da Associação Portuguesa de Reiki, cumprido ao longo de oito anos, mas ainda muito insuficiente. Por isso mesmo, a credibilização não passa só pelo trabalho da Associação, mas muito principalmente pelo teu próprio trabalho enquanto praticante. Como praticas? O que dizes que é a tua prática? O que fazes com ela? Que crenças misturas?
Um Homem é um todo complexo, muito dificilmente divisível de tudo aquilo que o compõe. Por isso mesmo não é simples compreender a extensão da crença de alguém e os limites da sua actuação. Quando praticares e falares sobre Reiki, lembra-te deste artigo, encara esta opinião com bondade construtiva.
Respostas ao artigo sobre Reiki
“O penúltimo passo antes de ficar seriamente doente é meter-se nessa seita até níveis avançados…” – Tristemente consideram “Reiki” uma seita. Ao fazê-lo estão a indicar que a igreja católica é dominante, pois seita é algo que está separado do que quer que seja de corrente dominante e dominar significa exercer autoridade e poder sobre. Neste caso indica que a igreja católica tem o direito a dominar e exercer autoridade sobre as pessoas, num estado que é laico.
Reiki, ou mais correctamente, o Usui Reiki Ryoho, nada tem a ver com seitas, ou seja, é uma prática que não está ligada a qualquer corrente religiosa ou espiritual e o simples facto de o querer enquadrar como tal é absolutamente errado, portanto, a título de correcção, não se poderá indicar em situação alguma que o Usui Reiki Ryoho é uma “seita”, principalmente querendo dar um tom pejorativo. Estes artigos de opinião religiosa ganharão muito mais se enquadrados nos termos correctos e na linguagem corrente da sociedade.
“Descobrindo que os mestres parecem ser capazes de fazer coisas sobrenaturais, como adivinhar coisas, saber quando vai acontecer um terramoto, entender línguas mortas, ver espíritos passando pela sala da casa”. – O padre Ricardo indica aqui uma grande verdade. Há pessoas a fazê-lo sim, mas isso nada tem a ver com o Usui Reiki Ryoho. Se o estão a fazer é por uma questão de ego, ou porque é assim que acham que deve ser, ou porque assim o aprenderam. O resultado é esta confusão que se vê. É por isso mesmo que acrescentar ideias, conceitos, espiritualidades que nada têm a ver com Reiki só dá num resultado e é isso que poderão ler amplamente em artigos como estes.
Então, urge uma reflexão, uma consciência honesta. O que estás a fazer com Reiki?
“Reikianos” – Aqui quererá dizer praticante de Reiki. O termo reikiano parece algo ligado a um movimento, ou ideologia, algo que nada tem a ver com o Usui Reiki Ryoho.
“Começarão a sentir um arruinar da vida em todos os campos…” – Infelizmente aqui já se entra numa narrativa muito obscurantista e que tem a ver com a crença pessoal. É também uma técnica ideal, o pegar nas coisas mais comuns da vida, como a dificuldade financeira e laboral, a doença, os argumentos, e indicar que isso é culpa da prática de Reiki, o que parece indicar que se a pessoa for de determinada confissão religiosa não terá estas dificuldades. Não me parece ser muito acertado, conhecendo a realidade.
“Sem que haja verdadeira consciência naqueles que praticam o Reiki de que estão a chamar maus espíritos quando desenham os seus símbolos ou chamam pelo nome, em seu favor ou para alguém” – É de facto assustador. Ler isto sem compreender a prática aterroriza qualquer pessoa. Não querendo entrar em campos que não são da minha área, recomendo o grande psicólogo Carl Gustav Jung e o livro “O homem e os seus símbolos”. Na prática de Reiki não se “invoca” nada, muito menos espíritos. O que quer que isso seja, nada tem a ver com Reiki. Mas para esta questão surgir, das duas uma, ou há uma clara incapacidade de compreender a prática ou há alguém a fazê-lo realmente, algo que se o quiser fazer que faça mas sem chamar a isso “Reiki”.
Esta parte final do texto contém duas partes. A primeira delas é referida em “fizeste uma prática espiritual que é uma grande ofensa a Deus”. Creio que o que a igreja entende como prática espiritual não tem a ver com o Usui Reiki Ryoho. Não fazemos jejum, mortificações, orações, não procuramos “poderes ocultos”, nem ideias obscurantistas, não temos um credo ou uma confissão. O que o praticante de Reiki faz é trabalhar o seu autoconhecimento, desenvolver a sua consciência através dos princípios e aplicar a terapia em si mesmo e depois nos outros, se tal acontecer. Na parte terapêutica, trabalhamos unicamente com o conceito de energia, que em nada está ligado à medicina ou à religião, ou movimentos espirituais. Então, por aí, como pode ser indicado como prática espiritual? E mais ainda, como grande ofensa a Deus? É estranho escrever algo assim… indicar que alguém está a ofender grandemente Deus e como tal, tudo o que corre mal na sua vida é por isso mesmo, porque realizou uma grande ofensa.
Creio que o padre Ricardo poderia usar outros termos como “reflecte sobre as tuas acções. Tens tido uma vida em harmonia contigo mesmo e com os outros? Tens sabido confiar? Tens sido honesto e bondoso? Que gratidão tens pelos ensinamentos que aprendeste na vida?”. Uma atitude mais positiva, construtiva poderá ajudar a pessoa. A ameaça, poderá ser dissonante, porque o medo cria um coração apertado e se está apertado, que espaço tem para uma bondade genuína?
Quanto à segunda parte tem a ver com o cumprimento dos mandamentos. Aqui o padre Ricardo Cristóvão tem toda a razão. Se realmente um crente, de qualquer confissão que seja, fosse um verdadeiro praticante, não existiria guerra, discórdia, mal-dizer, oportunismo, aproveitamento, riqueza pelo abuso, falta de respeito e muito mais. Uma reflexão apurada, encontra a verdade em qualquer crença e praticamente todas dizem o mesmo, mas falham pela falta de exemplo e cumprimento. Por isso mesmo, a recomendação dada é muito boa, neste caso aos católicos. Cada religião terá, com certeza, a sua própria indicação.
Por isso mesmo, a paz deve estar em todos e entre todos, devendo o nosso coração estar pacífico, não cultivando coisas que são contrárias ao melhor na humanidade. A missão do Usui Reiki Ryoho, segundo nos indicou o Mestre Usui, é “Guiar para uma vida pacífica e feliz”. A missão da igreja católica é também universal e bondosa. Acredito que uma correcta compreensão levará a perceber que Reiki não é uma concorrência à crença católica, que não é um desvirtuar de quaisquer ideologias e que não é uma prática também concorrente à medicina. Apenas praticamos o Usui Reiki Ryoho para podermos cuidar um pouco melhor de nós mesmos e podermos crescer um pouco mais como pessoas.
João Magalhães
A Associação Portuguesa de Reiki é uma Associação sem fins lucrativos para o apoio a praticantes de Reiki e esclarecimento sobre o Reiki em Portugal.