Um caminho de Santiago, com Reiki e reflexão
Percorrer um caminho é iniciar uma jornada para olhar para dentro e para crescer. Carla Ferreira, Marta Silva e Cristina Machado, partilham connosco este caminho, com algumas reflexões e aplicações dos princípios de Reiki
Carla Sofia Ferreira (CSF) – Chamo-me Carla Ferreira, tenho 33 anos, sou de Barcelos e sou professora de Biologia e Geologia.
Marta Silva (MS) – O meu nome é Marta Silva, tenho 37 anos, sou de Guimarães (o berço da nação!), sou professora e sou reikiana de 2º nível.
Cristina Machado (CM) – Eu sou a Cristina Machado, tenho 38 anos, também sou de Guimarães e sou professora de Português e sou reikiana de 1º nível.
O que vos motivou a fazer o caminho de Santiago?
CSF: Senti uma vontade inexplicável de fazer o Caminho de Santiago com a descrição entusiasta da minha irmã de caminhada Cristina aquando da sua primeira peregrinação, aliado à fé que sempre tive em Deus e de um gosto especial de visitar a catedral de Santiago.
Quando surgiu a oportunidade de fazer a peregrinação na companhia de duas pessoas com uma filosofia de vida com a qual me identifico, super bem dispostas, fiquei ainda mais motivada!
MS: Há dois anos atrás eu e a minha priminha, a Cristina, decidimos que queríamos muito fazer o Caminho de Santiago a pé! Fomos passar um fim de semana a Santiago e fomos de comboio! Não havia lugares sentados e tivemos de fazer a viagem a pé no comboio… mas esse “a pé” não contava!! Propusemo-nos a fazer o caminho no ano seguinte, durante um período de férias. Na altura tivemos alguns amigos que disseram logo que nos queriam acompanhar, mas sempre desconfiamos que chegariam à altura e desistiriam da ideia! Definimos de pronto que mesmo que fôssemos só nós duas faríamos na mesma a nossa peregrinação! E assim foi… no dia 17 de abril de 2011 (era domingo de Ramos) partimos de comboio de Famalicão até Valença para começar o nosso 1º Caminho de Santiago: o Caminho Português! Muita gente ficou admirada por irmos sozinhas e perguntavam-nos se não tínhamos medo! Recordo-me que na altura disse que não tínhamos medo nenhum e que quem vai pela fé e confia, não pode ir com medo! A experiência foi tão positiva e espiritualmente enriquecedora que resolvemos que a semana da Páscoa só fazia sentido para nós se fosse passada desta forma: caminhando juntas em peregrinação para nos desligarmos do mundo e nos ligarmos connosco próprias! É indescritível a emoção que se sente! Mas é uma energia muito boa na partida, durante o caminho e na chegada à Catedral! Em 2012 também combinamos fazer o Caminho, mas depois fomos recebendo sinais de que não era suposto fazê-lo nesse ano! Esse processo de leitura e compreensão dos sinais que fomos recebendo por intuição foi engraçado e tudo se conjugou para que realmente não fizéssemos o Caminho por motivos pessoais muito válidos! Mas 2013 era novamente ano de caminhar! A Cristina falou-me da sua amiga Carla que queria acompanhar-nos e, assim, resolvemos partir as três novamente à aventura! Decidimos fazer o Caminho Francês!
CM: Sou fascinada pela história de Cristo e fiquei encantada também pela de Santiago. Esta última levou-me a gostar de fazer o Caminho. Há dois anos, a minha vontade juntou-se com a da minha prima Marta e resultou no nosso primeiro Caminho. Depois da experiência tão única, decidimos fazer os restantes e, se possível, um diferente todos os anos. Faço-o com uma intenção espiritual… o percurso faz-me bem ao corpo, ao espírito, à mente… É único e especial!
Começaram onde?
CM / CSF: Quisemos fazer o Caminho Francês e começamos no domingo, dia 24 de abril, em Sarria, localidade pertencente à província de Lugo, norte de Espanha!
MS: Fomos de carro até Sarria, levadas por dois amigos da Carla (a Margarida e o Tiago)! Almoçamos com eles numa casa de Tapas, carimbamos as credenciais para marcar a partida, fomos para junto da igreja onde fizemos os últimos preparativos, recebemos um abraço de cada um deles, uma folha de louro da Margarida como símbolo de que estaria connosco durante a viagem, tiramos uma foto, lemos a oração do peregrino que está na credencial, pedimos ajuda a Deus que nos acompanhasse sempre e nos protegesse e lá fomos nós!
Quantos kilómetros percorreram e em quanto tempo?
CSF: Fizemos 111 Km em 6 dias! Saímos no domingo de Ramos à tarde e chegamos a Santiago na sexta feira Santa!
MS: Bem… o primeiro dia quase que não contou… fizemos apenas 4 km no domingo e depois fizemos uma média de 20 e poucos km por dia! Exceto na quarta feira que fizemos 28 km… foi talvez o dia mais duro!
CM: Iniciamos o percurso no dia 24 de março exatamente no km 111 e terminamos o Caminho no dia 29, mas a peregrinação completa só terminou no dia 30 de março.
Este foi o vosso primeiro “caminho”?
CSF: Para mim foi o primeiro caminho.
MS e CM: Para nós foi o segundo!
Como era a vossa rotina diária de reflexão?
CSF: Pela manhã antes de iniciar a caminhada e da oração do peregrino a irmã Marta lia a meditação diária proposta, e ao longo da caminhada, conforme as dificuldades nos iam aparecendo, a Cristina e a Marta lembravam sempre dos princípios do Reiki e da meditação e tentávamos sempre aplicar à situação. Por estranho que possa parecer, todos os dias, a toda a hora, se aplicava um dos princípios e isso permitia ajudar a ultrapassar as dificuldades, tais como: atravessar percursos de grande dificuldade, mantermo-nos secas, atravessar verdadeiros oceanos de lama, aguentar subidas e descidas, aguentar o peso da mochila, entre outros que iam surgindo.
Durante o percurso, cada uma de nós, a seu ritmo, ia meditando sozinha. Eu aproveitei nesses momentos para rezar, equacionar soluções de futuro, pensar no passado e no presente.
No final do dia fazíamos uma revisão das dificuldades e da forma como conseguimos ultrapassar sempre todos os obstáculos.
Por mais estranho que possa parecer, mesmo quando já estávamos no limite das forças, sempre sorrimos e fizemos sorrir.
MS: Na segunda feira, dia 25, recebi logo pela manhã, mesmo antes de sairmos, um email do Cenif Guimarães, em que a nossa mestre Sílvia Oliveira nos propunha uma semana de reflexão com os cinco princípios! A reflexão vinha sempre acompanhada de um poema do imperador Meiji e então achamos que o nosso dia deveria sempre começar fazendo a oração do peregrino, seguida dessa reflexão em conjunto e depois, nos primeiros quilómetros do caminho, cada uma caminhava em silêncio refletindo nas palavras que chegavam até nós através das novas tecnologias! Como disse a Carla, os princípios estavam sempre presentes ao longo do caminho e o primeiro, o “Só por hoje, sou calmo” adequava-se na perfeição neste primeiro dia de caminhada, pois na nossa primeira noite ficamos num albergue onde não conseguimos dormir quase nada, uma vez que havia duas pessoas a roncar toda a santa noite! Foi mesmo enervante! Foi uma noite de fazer saltar a tampa! Mas logo pela manhã, ao lermos a primeira reflexão, de imediato nos rimos e percebemos que tinha caído que nem uma bênção para nos animar o dia e lembrar-nos de nos mantermos calmos perante todas as situações… até naquelas em que temos vontade de usar o canivete suíço! (Isto é uma brincadeira por causa da noite mal dormida!) Houve um dia, o dia do quinto princípio, que não recebemos a reflexão logo de manhã cedo e sentimos falta! Sabíamos que era o dia do “Só por hoje, sou bondoso!” e refletimos na mesma! Entretanto, ao almoço já tivemos acesso ao e-mail e fizemos a reflexão a meio do dia! Recordo-me que ao longo dos cinco dias de reflexão íamos conversando e trocando ideias sobre cada um dos princípios e de como os aplicávamos no nosso dia a dia!
CM: De manhã, antes de iniciarmos a caminhada líamos a oração a Santiago que constava da Credencial. Depois, como nunca começávamos muito cedo J, a Marta lia-nos o email do Cenif, onde constava o princípio a trabalhar naquele dia. De seguida, cada uma fazia o seu próprio momento de reflexão. Eu aproveitava para rezar e colocar as minhas intenções. Ao longo do caminho, íamos refletindo e comentando os vários momentos e de que forma se enquadravam nos cinco princípios. Lembro-me que muitas vezes, quando a chuva abrandava um pouco, deitava o capuz para trás e pensava na imensa felicidade que me dava senti-la e agradecia por isso…
Aconteceu algo que fosse marcante para vocês ao longo do caminho? Coincidiu com que tema de reflexão para o dia?
CSF: Eu nunca tinha ouvido os princípios do Reiki “Só por hoje… sou calma, confio, sou grata, trabalho honestamente e sou bondosa”, mas posso dizer que durante todo o percurso estes me foram muito úteis nos meus momentos mais difíceis! Desde então tenho-os tentado seguir.
MS: Todos os dias acontecia algo que nos relembrava os princípios… ser calmas nas situações que aparentavam mais perigo (foi preciso especialmente quando tivemos de passar por uma espécie de pântano todo enlameado, tentando não enterrar os pés na água e na lama, pois era importante mantermo-nos secas); confiar na nossa intuição ao longo do caminho e confiar que em cada dia encontraríamos um lugar para dormir, tomar um banho quente e com aquecimento para secar a roupa. Recordo-me que um dia estávamos à procura de uma pensão para dormir e as minhas “irmãs” seguiram uma indicação para um caminho à direita. Eu não fui atrás delas e disse-lhes “Algo me diz para ir para a esquerda! Confiam na minha intuição?” Elas prontamente disseram que sim e esperaram por mim enquanto eu desci para a esquerda! Encontrei dois padres perto de uma igreja! Ambos me indicaram um hotel baratinho e aconchegante! Chamei-as e ainda fomos carimbar as credenciais dentro da tal igreja, a igreja de “San Tirso” (o mesmo nome de uma terra portuguesa) e ficamos contentíssimas com o tal hotel que nos indicaram pois deu-nos ótimas condições de descanso!; ser gratas até pela chuva, pelas subidas do caminho, pelas dificuldades com que nos deparávamos (pois eram sempre uma porta para novas aprendizagens), pelos cafezinhos que íamos encontrando pelo caminho quando mais precisávamos de descansar, pelo banho quente, pelas belas paisagens, pela sorte que íamos tendo pelo caminho… ahhh tenho de contar isto: recordo-me que o boné da Cristina rebentou e não se segurava bem na cabeça! Na altura pensamos que se tivéssemos um alfinete poderíamos prender a tirinha do boné… mas não tínhamos nenhum alfinete!! No entanto, no dia seguinte, durante o caminho, apareceu um alfinete no chão bem à nossa frente! Rimo-nos e nem ficamos espantadas! Creio que lhes disse que o universo providencia sempre o que mais precisamos quando menos esperamos! Foi mais um motivo para ser gratas! E também fomos gratas mesmo quando tivemos de ficar num quarto onde pingava água na minha cama! Nessa noite choveu muito e a água não parava de cair da claraboia que estava enquadrada com a minha cama! Resolvemos o problema com uma mudança da decoração do quarto de forma a que a cama ficasse seca e acabamos por dormir muito bem; trabalhar honestamente foi um principio constante visto que nesta semana o nosso “trabalho” era caminhar… fazer os quilómetros a que nos tínhamos proposto e chegar ao fim da etapa diária com sensação de dever cumprido, e com o ânimo levezinho, trabalhando igualmente as nossas emoções e espírito; finalmente o ser bondoso foi relembrado todos os dias e em especial no dia em que nos foi proposto refletir sobre o ser-se bondoso, pois nesse dia sentimo-nos um tanto ou quanto descriminadas por sermos peregrinas, ao entrarmos num restaurante já em Santiago de Compostela. Mas lá mantivemos a calma e fomos bondosas connosco próprias não deixando que a má disposição dos empregados do restaurante nos afetasse e sendo bondosas também com eles, não reclamando nem saindo sem pagar! (esta parte do sair sem pagar também é a brincar!) Neste último dia de caminhada lembro-me que estava a sentir dor por debaixo das costelas do meu lado direito, sempre que respirava… parecia que tinha ali algo espetado e caminhei durante alguns minutos com a minha mão esquerda sobre as minhas costelas, enviando reiki e passado pouco tempo a dor desapareceu e pude continuar a caminhar sem dificuldades! Fiquei tão agradecida, pois caminhar diminuída fisicamente é custoso!
CM: Para mim, o mais marcante foi o dia de reflexão dedicado ao princípio: “Só por hoje sou grata”. Foi uma etapa dificílima. O percurso foi quase todo debaixo de chuva… umas vezes mais intensa outras menos. Só este pormenor torna a caminhada mais difícil. Por causa da chuva, houve uma parte do caminho intransitável uma vez que estava inundado. Foi necessário percorrer um caminho alternativo cheio de erva, silvas e lama e num determinado momento era preciso subir e caminhar em cima de um muro. A altura do muro não era muito significativa, mas para quem tem vertigens como eu, qualquer altura atrapalha. Confesso que entrei em pânico. Pus os pés na primeira pedra e parei porque não conseguia andar. Nesse momento pensei: “Eu não consigo mexer-me, mas não posso ficar aqui. Tenho de ir… tenho de seguir”. Respirei fundo e senti força, força essa que me permitiu continuar. Quando passei esse obstáculo senti-me grata por ter conseguido superar o pânico. Ainda nesse mesmo dia, ao atravessar um percurso de lama, foi necessário contornar um tronco de árvore bem largo. A passagem estava a correr até muito bem, mas no final escorreguei na lama e agarrei-me à primeira coisa que me surgiu: arame farpado! Por sorte, a minha mão ficou exatamente no intervalo dos picos. Nem queria acreditar no que acabara de me acontecer! Mas eu sei o que foi… o princípio “Só por hoje, confio” acompanhou-me sempre, assim como Santiago que me protegeu naquele momento. Mais uma vez me senti grata por todas as aprendizagens daquele dia, por todas as oportunidades que me foram dadas e pela felicidade que tinha no rosto no final de cada etapa… O meu diário (eu fui escrevendo um diário) nesse dia acabou assim: “Só por hoje sou grata por ter duas amigas tão especiais. Só por hoje sou grata por ter sido abençoada numa igreja de Santiago. Só por hoje sou grata por ter superado o medo e não me ter magoado. Só por hoje sou grata por conseguir concluir uma etapa tão longa. Só por hoje sou grata por ter fé. Só por hoje sou grata por amar e ser amada.”
Aconselhariam outros praticantes de Reiki a fazê-lo?
CSF: Eu não sou praticante de Reiki, mas aconselho todos a fazer a peregrinação, foi uma experiência espetacular o maior desafio da minha vida, onde testei vários limites, a saída da zona de conforto, das mordomias do dia a dia, a capacidade de aguentar o esforço físico intenso. Tudo foi positivo, inclusive os obstáculos que foram surgindo… sem eles não teria tido a oportunidade de perceber que nós somos capazes de aguentar muitas dificuldades! O segredo está em nunca desistir e confiar!
MS: Quando alguém me pergunta sobre como é fazer o Caminho eu esboço um sorriso de orelha a orelha e digo que é das melhores experiências que já tive em toda a minha vida e não é à toa que quero repeti-la todos os anos, se assim me for permitido! Os olhos brilham quando falo de uma coisa tão simples como fazer uma caminhada que é mais, muito mais, do que apenas fazer quilómetros e quilómetros a pé! É uma viagem espiritual do melhor que pode haver, onde aprendemos o que é o desapego de muitas coisas materiais supérfluas (e aprendemos a valorizar outras que ali se tornam muito importantes e necessárias); pomos os nossos limites à prova; desprendemo-nos de alguns “pesos” (o único peso que levamos às costas é mesmo o da mochila; desenvolve-se o espírito de cooperação e de irmandade e a alegria está constantemente no ar! Houve até um peregrino que nos disse uma vez: “Como sois felizes!” E era verdade… não houve ponta de desânimo ou de tristeza durante aquela semana… até as “desgraças” eram motivo de animação! Só posso recomendar a reikianos e não reikianos pois é uma forma de entrarmos dentro de nós, passarmos tempo connosco próprios e de nos conhecermos melhor!
CM: Aconselho qualquer pessoa, independentemente de ser reikiano ou não. É preciso querer muito, não se pode simplesmente ir para fazer companhia a alguém ou porque alguém disse que é uma experiência única.
Que dicas lhes podem dar?
CSF: Confiança em si mesmos. E muita fé.
MS: Para além da autoconfiança e da fé, acho que é preciso espírito aberto, boa disposição, boa companhia e, em termos de material a carregar, o mais importante é calçado bom e confortável, meias grossas, um impermeável (se for tempo de chuva), um boné e um cajado de peregrino… e uma mochila o menos pesada possível, só com aquilo que for estritamente necessário (4 kg de peso é o ideal pois da primeira vez levávamos 7 kg e pouco e custou-nos mesmo muito) e um bom creme hidratante para os pés! É muito importante descansar a cada 2 horas de caminhada pois ganha-se novo ânimo e força! E o descanso durante a noite é o mais essencial, depois de banho de água quente! E porque não um canivete suíço!? J
CM: No primeiro caminho levávamos uma mochila enorme e muito peso. No final, deixei alguns conselhos no meu diário para o caminho seguinte… e foram úteis! É claro que fazer o caminho no verão ajuda a levar menos peso, mas no inverno/primavera é preciso ter alguns cuidados extra, pois é importante ter sempre roupa e calçado secos. Por isso, tirando roupa leve e quente, roupa interior e produtos de higiene… uma mochila de 40 litros, poncho, boné, saco cama, chinelos, botas de caminhada usadas, um cajado (é fundamental, quase tão importante como as botas!”). Se pretender ficar em albergues, deve levar-se tampões para os ouvidos e toalha leve e absorvente… E neste caso ir preparado para água fria e muitos “roncos”! J
Continuarão a fazer o caminho nos próximos tempos?
CSF: Sem sombra de dúvida, sempre que tenha companhia das minhas irmãs de caminhada e haja condições emocionais, físicas e económicas reunidas.
MS: A ideia é mesmo essa: fazer um caminho diferente todos os anos na altura da Páscoa! E como agora somos as três cofundadoras de uma irmandade secreta (não perguntem que irmandade é esta porque é segredo!!), o caminho faz sentido se for feito com esta tríade maravilhosa! O caminho inspira-nos, faz de nós pessoas melhores, e isso reflete-se depois nas nossas atitudes no dia a dia! E não somos nós as únicas a beneficiar do bem que o caminho nos faz… os que nos rodeiam acabam por lidar com a nossa leveza e beneficiam disso também! Quero referir também a importância de andarmos uma semana quase totalmente no meio da natureza, onde podemos aprofundar os nossos sentidos… tudo na natureza nos desperta… as paisagens que vemos, o cheiro da terra e das flores, o sabor da água fresca das fontes, o barulho dos pássaros e o toque da chuva e do vento e o calor do sol! Fazer o caminho não custa… o que custa é voltar à vida normal depois de andarmos uma semana a caminhar!
CM: Sim, sim sim! Se possível, um Caminho diferente por ano!
MS: Em jeito de conclusão, gostaria de terminar a entrevista partilhando uma reflexão que fiz na semana a seguir ao nosso Caminho! Recordo-me que na terça-feira em que regressamos ao trabalho, trocámos mensagens entre nós, em que partilhávamos um sentimento comum de muita saudade da semana anterior e de como nos estava a custar voltar à vida normal! Aqui vai a reflexão:
“É engraçado que está a custar voltar à civilização e ao mundo material. Ontem dizia a uma pessoa amiga que no Caminho as pessoas querem despojar-se do maior número de coisas possível e que o importante é chegar ao destino e sentir-se bem com isso e que há uma alegria extra quando se vê que aqueles que partilharam o caminho connosco também chegaram! Não importa quem foi o primeiro, não importa quem tinha o melhor equipamento ou pertences, ou quem tem uma posição social mais alta… porque ali todos se sentem como iguais, com um objetivo comum: chegar… e sentir o prazer que é percorrer o caminho para chegar… e ter noção das aprendizagens!
A vida devia ser como o Caminho! Mas a vida tornou-se numa competição, onde a maior parte das pessoas esqueceu o motivo pelo qual anda a caminhar! E parecem ter esquecido que, no final, chegamos todos ao mesmo destino!
A Humanidade tem desaprendido tanto de como deve caminhar!”
Fotografias no Caminho de Santiago
João Magalhães
A Associação Portuguesa de Reiki é uma Associação sem fins lucrativos para o apoio a praticantes de Reiki e esclarecimento sobre o Reiki em Portugal.